Por mais que tentemos encontrar causas e explicações para tragédias como a de um filho adolescente matar a própria mãe, é preciso relembrar que a psicopatia e a sociopatia existem.
E que é uma área que, na verdade, ainda nos coloca mais perguntas do que respostas.
Crescemos a ouvir falar de filmes de psicopatas baseados em casos reais, mas há muita psicopatia para além disso, que não chega a situações tão extremas de se matar alguém.
Não sabendo nada sobre o caso e, portanto, não querendo a ele referir-me, algo assim mexe totalmente com as nossas vísceras e uma parte nossa não quer acreditar que tal coisa seja possível. Então, é mais fácil culpar a sociedade, a educação permissiva dos dias de hoje, a internet ou tudo o que colocamos fora de nós. Como se fosse uma mera e simples culpa alheia. Já para não falar do julgamento e da falta de empatia a que se assiste nestas situações. Faz pensar o quanto o colectivo tem, em si mesmo, uma boa dose de sociopatia.
Claro que estamos num contexto social muito preocupante ao nível de saúde mental. A percentagem de crianças, jovens e adultos com perturbações é tremenda e o mundo cada vez mais artificial, acelerado e vazio de sentido que se está a promover, vai continuar a trazer consequências graves. Ainda assim, há coisas que extrapolam tudo e sempre existiram pessoas com uma total incapacidade de ter empatia, remorsos ou sentimentos de culpa. Que nada sentem em relação aos outros e que inclusive já se encontraram evidências de alterações cerebrais responsáveis por isso, embora seja sempre questionável se é do ovo ou da galinha.
Há diferenças entre psicopatia e sociopatia. A primeira parece ser mais inata e a segunda mais resultado de factores ambientais. Mas de qualquer das formas, nada é de uma única causa.
Considera-se que resulta de um conjunto de variáveis genéticas, ambientais e do desenvolvimento emocional na infância. Sabemos que há uma relação entre crianças altamente traumatizadas, negligenciadas e maltratadas, mas este aspecto não explica tudo.
Confesso que, desde muito cedo, e por estar dentro da área, dei por mim a sentir necessidade de identificar claros sinais de uma empatia genuína nos meus filhos. Com outras pessoas, com animais, comigo até. E de facto ela sempre existiu e está muito presente neles. Eu não posso tirar a minha gata de uma forma menos gentil da mesa de refeição, que eles tomam logo as dores dela.
Isso não garante nada, nós não sabemos nunca o que nos espera. Mas garanto-vos que se identificam empatia nos vossos filhos (e a maioria tem-na, naturalmente desde cedo), então muito dificilmente algo tão trágico aconteceria. Muito menos ao nível de um planeamento e de uma intenção.
Falo sobre isto porque sei que, secretamente, muitas pessoas ouvem uma notícia destas e ficam com receio de algo lhes estar a escapar. E medo não é uma coisa que se precise quando sabemos destes casos.
Resta-nos ter uma profunda compaixão. Pela mãe que morre tão cedo. Pelo jovem que fez algo tão abominável. Por todas as pessoas que a eles estão ligados. E respeito. Muito respeito por aquilo que desconhecemos.